sábado, 12 de novembro de 2016

Ser

O ser se esparrama no corpo.

Experimente fechar os olhos e não associar a fala do outro à sua imagem. Verá somente a ideia do outro expressa no tempo. Ainda assim, uma forma, vibração sonora de ondas que partem da matéria. O corpo, morada da energia do ser, vibra mais denso e concentrado que as moléculas do som emitidas pelo movimento das suas cordas vocais em orquestra. Mas a ideia é energia ainda mais fina. Mora no invisível, treme miudinha. Mais fina que farinha, mais forte que o aço. As ideias, sutis na grande teia, encontram morada na carne, para serem devoradas e depois vibrarem no mundo a partir da energia de seus veículos terrestres - todos nós, duros de forma.

A ideia, adensando forma em nossos cérebros-motores, é burilada, construída e deformada de acordo com a maquinaria competente ou não de cada um. Nesse processo, vem ao mundo da ação em vibração portando a energia do que a cria, se espalha no mundo.

A ideia se esparrama no mundo.

A ideia necessita de corpos para se espalhar no mundo, de reprodução em massa do seu programa de aprimoramento. Ou a ideia é tão pura, que só necessita de um para torná-la mundo. A ideia claudicante, atropelada, às vezes não morre – agarra no mundo.

E todos seres, veículos no mundo, saímos vibrando densos entre campos de energia. Cada metro quadrado um redemoinho de pensamentos e ideias rodopiando, interferindo como rádios-piratas e rádios-amadores as antenas de nossa vida. Todos são atropelados, afetados diretamente com a pulsação da mistura do mundo. Por isso, escolher onde transitar e como transitar. Sabendo fechar e abrir persianas. Brechas apenas para o fino é a meta. Por vidas afinamos essa antena fio-Terra, equipando com novas tecnologias e esquemas de segurança a nossa parabólica ambulante constelação mental, nossa fabril-febril esteira, afinando seus recursos, maquinários e expedientes para promover o seu mais fino produto, o som harmônico da vibração altíssima de um vasto ser.

O mundo se esparrama no ser.

O mundo é vasto, o ser será. Vamos alargando os espaços de nós, buscando sermos livres a cada expansão de consciência. Buscar consciência é saber ler as vibrações: as repelidas e as amalgamadas. Se escolhe. Sempre. Porém, saber a melhor opção é a consciência como alimento do que se é. Estamos não evoluindo, mas nos reprogramando para chegar ao canto do divino. As ideias talvez caiam aqui vindas do plano superior e esperem de nossos aparelhos os ajustes de refinamento necessários para trazer novos mundos para nós, em reprogramação enérg(ET)ica do planeta. Para isso, nossa mente una, coletiva, deve conectar-se sem faíscas e ruídos. A opressão mundial, a violência, as ditaduras, advêm de nossas mentes fazendo má musica. Ideias devem ser orquestradas pelo maestro criador dos instrumentos, que firma a batuta em cada processo de aperfeiçoamento de nossas redes. O ser joga no mundo, a mistura do mundo devolve no ser. Deve haver alguma forma de filtração do mundo, para a extração do puro, para a transmutação do sujo, para a criação de paraísos. De mundos mais justos, harmoniosos e fortalecidos que se esparramem sem ruídos nos mundos vastos a ser. De mundos invadindo nossos pastos, sem ondas de baque, cantando o mantra do om, vibrando parado no infinito, nossa eterna ressurreição.




Cura do Sapo - 2016
lapiseira e arte digital

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

finados

Nesse dia de finados, enterro de vez toda energia desqualificada, de zombaria, de ilusão, de maldade travestida de inocência, de desilusão, de rasteira que já tenham me ofertado. Enterro as flechas que buscaram e buscam me atingir, fecho meu corpo como quem fecha a tampa do sarcófago. Me cubro de joias de mistério para ser a minha própria lenda. Enterro todo olhar e percepção vindos de fora, enterro todas as relações de todas as vidas. Enterro meus erros, enterro minhas anomalias, minhas doenças, minhas cascas e feridas, enterro o pus da minha arrogância, fervendo no solo e fermentando o amanhã. Enterro manias, padrões passados, sabendo ainda o processo de luto pelo novo ser construção. Enterro não como quem enterra algo para esquecer. Não enterro como quem foge. Não enterro como quem mata. Tudo o que enterro me faz hoje em Terra. Enterro para adubar e agradecer a Mãe Gaia, que se nutre com a energia orgânica e a beleza das marcas de nossos passos além-vidas. Enterro para fertilizar o solo sagrado e transmutar tudo o que já foi ido, enterro todo o meu passado para florescer novos futuros. Se mente, não há semente - semente é Verdade enterrada para brotar. Não há nada que me tire da agoracultura, de ordenar que me cavem a memória as minhocas, pra arejar os tempos. Ainda há muito o que enterrar, muito ainda ser sempre velório. Um dia me enterro por completo, daqui a muitas existências. Hei também de nascer muito mais, de confiar mais em mim divinamente sendo. Meu caminho único de redenção, nascer para mim no esplendor do Santo Nome. Agradeço todo o bem e todo o mal que encontrei em meus caminhos, pois todos eles me fazem ser o que mereço e necessito ser. Que eu ainda possa enterrar medos, mágoas, traumas, sentimentos, lembranças, inseguranças, toda a sombra, enterrados em Luz. Que eu continue me enterrando, nas areias, nos mangues, nas ondas, nas montanhas, nas pedras, nos fósseis, nos ossos, no pó, nas estrelas. Que cada enterro meu, pessoal ou a mim empurrado, seja em breve nova vida. Me descubro no passar dos dias, muito maior do que já era e também bem miúdo diante do Todo. O trono do Imperador é maior que qualquer ego e Aquele que nele se senta glorifica qualquer coração ao Amor Sublime. Potestade e humildade sendo co-criados na obra de arte mundana e espiritual. Cada curva, cada reta, um canteiro pedindo flor. Cada regar, cada rezar, cada arar, cada nutrir, cada verbo a declarar o existir, enterro e faço nascer, pelo bem de toda a natureza que me nina, nos colos do universo.





Performance IMPERMANÊNCIAS - Performers Sem Fronteiras

QUASE MORTE

A vida é experiência de quase morte. Quando olhar para o espelho, não veja nada! Pois dali só vibra orgânica a transformação, transitório em notório trânsito divino.

Fazer comunhão no encontro, na luz, no encaminhamento. O medo da morte é o medo de si. Morte é alegria de findar e a possibilidade de buscar de novo o seu tesouro, submerso no oceano de sua essência. Fechar os olhos e confiar na fé divina que está em tudo, deixar engolir o teu mais precioso mistério. Ouve a natureza e aprenderás os segredos de todo o mundo. Os ciclos, os ritos, as paixões. Entrego a ti, Senhor, minha vida inteira.


Meu ser que se foi, está, já vem.

LEÃO

O leão ruge? Foge. Ama o Deus saudando a savana de dentro de sua glote! Bom dia, leão! Rugir não é fazer barulho, é como um resultado de potências que ali encontram o destino, de mostrar a máquina do mundo e de esconder a filigrana invisível da engrenagem que gira toda massa, que pisa e dá liga. Almoça, deita, corre, jejua, medita, edita, ruge. Olha o leão te ensinando!


NÓS PRECISAMOS RESGATAR A LUA.

RESGATAR A ALMA.

RESGATAR O ALIMENTO.

RESGATAR A SAÚDE.

RESGATAR O DIVINO.

RESGATAR A QUIETUDE.

RESGATAR O RESGATE.